Em minha rotina no consultório, sempre me impressiono com a frequência cada vez maior de alergias alimentares em crianças. Atuo em pediatria e neonatologia, e vejo de perto como uma reação inesperada pode trazer inseguranças para as famílias. Neste artigo, quero dividir informações objetivas, históricas e práticas. Espero contribuir para que mais famílias consigam identificar, agir e sentir-se acolhidas nesse desafio, uma das missões do projeto PEDIATRA ANA BALLOTI.
O aumento das alergias alimentares no Brasil
Há vinte anos, falar de alergia alimentar era quase raro em discussões familiares ou escolares. Hoje, os números apontam uma mudança drástica. Dados do Conselho Federal de Enfermagem mostram que as internações hospitalares por alergia alimentar em crianças aumentaram 500% nas últimas duas décadas. Estima-se que entre 6% e 8% das crianças menores de três anos já convivem com o problema. Trata-se de um salto impressionante se comparado a 1990.
O porquê desse aumento? Não existe resposta única, mas hábitos alimentares mudaram, a introdução precoce de alimentos ultraprocessados cresceu, e há uma vigilância maior sobre sintomas. Sigo estudando e debatendo com colegas, e ainda somos surpreendidos por relatos de reações a alimentos considerados até então “seguros”.
O que é alergia alimentar?
Basicamente, alergia alimentar é uma reação do sistema imunológico a uma proteína do alimento, interpretada pelo corpo como ameaça. Isso vale para qualquer idade, inclusive bebês. Ainda assim, há nuances e detalhes: nem todo sintoma é clássico ou imediato. Conforme a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares, reações podem variar de leves a graves, e requerem atenção, apoio especializado e adaptações familiares.
Sintomas podem ser sutis ou explosivos.
Já atendi crianças que só tinham vermelhidão ao redor da boca após comer algo específico. Outras apresentavam vômitos, coceira intensa e, em raros casos, quadro grave: a anafilaxia (quando múltiplos órgãos são afetados, exigindo socorro rápido).
Principais sintomas: fique atento aos sinais
Todo pediatra, incluindo eu mesma, enfatiza um ponto: nem sempre o sintoma alérgico aparece de imediato. Em algumas situações, leva horas ou até dias. Porém, as manifestações mais comuns, segundo o Ministério da Saúde, são:
- Coceira, placas ou vermelhidão na pele
- Inchaço (lábios, pálpebras, língua)
- Vômito ou diarreia inesperados
- Chiado, dificuldade para respirar
- Dor abdominal ou cólicas persistentes
- Irritabilidade incomum em bebês
O grande temor, sem dúvida, é a anafilaxia. Como profissional e mãe, sinto um aperto ao imaginar a cena: surgem rapidamente coceira generalizada, edema nas vias aéreas, queda de pressão. Esse é caso de emergência e deve-se acionar imediatamente o serviço médico.
Principais alimentos envolvidos
Costumo orientar famílias a redobrar atenção ao introduzir os alimentos mais associados às alergias:
- Leite de vaca e derivados
- Ovos
- Amendoim e castanhas
- Trigo
- Soja
- Peixes e frutos do mar
- Chocolate (por conter leite, traços de nozes, etc.)
Inclusive, pesquisas do Hospital do Servidor Público Municipal de São Paulo confirmam que 20% das crianças brasileiras têm algum tipo de alergia, sendo as alimentares e as respiratórias as mais frequentes.
Por que o ultraprocessado preocupa?
Esse tema merece atenção especial. Um estudo recente do Centro Paula Souza, realizado em julho de 2024, sugere que alimentos ultraprocessados podem aumentar o risco ou agravar alergias em crianças. Aditivos, corantes e conservantes presentes nesses produtos parecem sensibilizar ainda mais o sistema imune infantil. Tento reforçar essa mensagem nas minhas consultas: quanto mais natural e menos industrializado, menor o risco para os pequenos, e mais qualidade na alimentação.

Como agir diante de uma suspeita?
Você percebeu reações estranhas após um alimento novo? Na dúvida, siga estes passos iniciais que compartilho até no projeto PEDIATRA ANA BALLOTI:
- Avalie os sintomas imediatamente. Se houver falta de ar, edema, tosse ou letargia, procure socorro de urgência sem hesitar.
- Suspender o alimento suspeito. Evite oferecer o item novamente até consulta com alergista ou pediatra.
- Faça um registro detalhado: qual alimento, horário do consumo, todos os sintomas notados e a evolução nas horas seguintes.
- Leve tudo ao pediatra. Não tente medicar por conta própria em casos não triviais. A condução requer cuidado especializado.
Rapidez salva vidas. Informação empodera famílias.
Diagnóstico: nem sempre é tão óbvio
Mesmo quando a suspeita é forte, o diagnóstico de alergia alimentar requer avaliação profissional. Exames laboratoriais, testes de provocação e histórico detalhado costumam ser necessários para confirmar a correlação. Nunca recomendo autodiagnóstico ou restrições alimentares drásticas sem orientação, pois há risco de carências nutricionais, principalmente nos pequenos em fase de crescimento.
Trago sempre à tona o conceito de acolhimento e individualização. Cada família, cada criança, reage de uma forma. Em algumas, a exclusão temporária é suficiente; em outras, é preciso monitoramento prologado e suporte multidisciplinar. O Ministério da Saúde enfatiza que o SUS oferece tratamento inicial na atenção primária, com encaminhamento a especialistas quando necessário. Isso traz um pouco de tranquilidade aos pais, que muitas vezes se sentem perdidos diante do diagnóstico.
Rotina de quem convive com alergia: desafios e superações
O maior impacto para as famílias vai além da saúde física: está nas adaptações diárias. Mudanças no cardápio, atenção ao ambiente escolar, necessidade de checar rótulos e até isolamento social são relatos constantes em meus atendimentos. O mais importante, do meu ponto de vista, é nunca cair no desespero ou no excesso de restrição. Informação e acompanhamento adequado permitem uma infância plena e segura, apesar dos cuidados necessários.
Procuro criar, com pais e cuidadores, uma rede de apoio com escolas, profissionais e familiares. Faço questão de orientar sobre planos de ação rápidos (inclusive para professores e avós) e indico grupos, receitas adaptadas e literaturas confiáveis para quem inicia essa jornada.

Considerações finais
Alergias alimentares cresceram muito nos últimos anos e hoje fazem parte da realidade de muitas famílias, especialmente com crianças pequenas. Sinais e sintomas podem ser discretos ou assustadores, mas a informação correta e o preparo para agir rápido fazem toda a diferença. O acompanhamento médico cuidadoso, alimentação natural e atenção às mudanças do corpo são meios de preservar saúde e bem-estar na infância.
No projeto PEDIATRA ANA BALLOTI, oriento pais e cuidadores para que enfrentem esses desafios sentindo-se acolhidos e fortalecidos. Se você percebeu sintomas, sente insegurança ou quer saber mais, agende uma consulta comigo. Juntos, podemos transformar medo em conhecimento e cuidado autêntico.
Perguntas frequentes sobre alergias alimentares em crianças
O que é alergia alimentar em crianças?
A alergia alimentar em crianças acontece quando o sistema imunológico reage de forma exagerada a proteínas de certos alimentos, mesmo eles sendo inofensivos para a maioria das pessoas. Pode surgir em qualquer idade e provocam sintomas variados, das formas mais leves às perigosas.
Quais os sintomas mais comuns de alergia?
Os sintomas mais comuns são: placas avermelhadas ou urticária na pele, coceira, inchaço em lábios e pálpebras, vômitos, diarreia, dor abdominal, chiado ou tosse, além de sintomas mais graves, como dificuldade respiratória e queda de pressão.
Como agir em caso de reação alérgica?
Se notar falta de ar, edema ou quadro grave, procure atendimento médico urgente imediatamente. Suspenda o alimento suspeito, anote informações sobre o quadro e leve tudo ao pediatra/alergista. Não medicar sem orientação profissional.
Quais alimentos mais causam alergia infantil?
Os alimentos campeões de alergia infantil são: leite de vaca, ovos, amendoim, castanhas, trigo, soja, peixes, frutos do mar e alguns ultraprocessados por aditivos químicos. Sempre observe com cuidado cada introdução alimentar.
Quando procurar um médico para alergia?
Procure o pediatra sempre que identificar reações cutâneas, gastrointestinais ou respiratórias após exposição alimentar. Quadros graves exigem socorro imediato, mas qualquer dúvida acione o profissional para avaliação segura e personalizada.